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HISTÓRIA

 

A origem do jogo do bicho, atividade tipicamente brasileira, remonta ao fim do Império e início do período republicano.


Jornais da época contam que para melhorar as finanças do jardim zoológico, localizado no bairro da Vila Isabel, em dificuldades financeiras, no Rio de Janeiro, o senhor de terras e escravos João Batista Viana Drummond, criou uma loteria em que o apostador escolhia um entre os 25 bichos do zoológico.

Os bichos eram representados individualmente pela sequência numérica de quatro unidades, compreendidas de 00 e 99 nos dois dígitos finais, haveria 25 bichos que respeitada a sua ordem alfabética eram distribuídos em progressão aritmética múltiplas de quatro de 00 a 99. Ao final do dia, os organizadores do jogo revelavam o nome do bicho vencedor e afixavam o resultado num poste, o que até os dias de hoje continua sendo feito.

O jogo do bicho permitia apostas de "simples moedas a tostões furados", e isso em uma época em que a recessão tomava conta do Brasil. Essa modalidade de jogo rapidamente se alastrou pelo país e tornou-se para o pobre algo comparável à bolsa de valores para os mais abastados.

Desse modo, quase sempre "investindo" com poucas moedas, o apostador nunca deixava de "aplicar" na sua "bolsa de valores", talvez a maior a céu aberto do mundo, e que deu origem à expressão: "só quem ganha é quem joga".

A organização do jogo de bicho preserva uma hierarquia como a de atores, teatro e plateia (banqueiros, gerentes e apostadores).

Nessa hierarquia, o "banqueiro" é quem banca a totalidade do jogo e quem paga a banca. O "gerente de banca" ou do ponto, é quem repassa as apostas ao banqueiro e o prêmio ao vendedor. O vendedor é agregado ao gerente de banca e é quem escreve e quem intermedia pagamento entre o apostador e o gerente. A banca e o ponto não necessitam de um lugar fixo para operar e seus funcionários são frequentemente encontrados nas ruas sentados em cadeiras ou caixas de frutas. Em outras regiões do Brasil , pode-se entrar em contato por telefone, e um motoboy vêm buscar o jogo em sua casa ou trabalho.

O jogo do bicho tem algumas regras que estipulam limites nas apostas: um exemplo é a "descarga" de alguns números muito apostados, como o número do túmulo de Getúlio Vargas ou número do cavalo no dia de São Jorge. Para alguns organizadores os números muito jogados são cotados afim de evitar a "quebra da banca" tanto por parte das bancas de apostas como durante a apuração no sorteio.

Pelo fato de ser uma atividade que envolve dinheiro não controlada pelo governo, o jogo tem atraído a atenção das autoridades corruptas e criou-se um complexo e eficiente sistema para a realização da venda de facilidades.
A Paraíba é o único estado da Federação onde o jogo do bicho é considerado legal. As "corridas" (extrações dos números premiados) são feitos pela Loteria do Estado da Paraíba (Lotep) e o estado cobra taxas dos "banqueiros". Em razão disto, não é explorado pelo mundo do crime. Outros estados como Pernambuco usam as "corridas" da Paraíba como resultado oficial. Corre uma história de que durante a ditadura militar, o presidente Castelo Branco, numa reunião da SUDENE em Recife, teria cobrado do então governador João Agripino a extinção do jogo na Paraíba. Agripino teria respondido ao então presidente: "Acabo com o jogo do bicho na hora em que o Senhor arranjar emprego para os milhares de paraibanos que ganham a vida como cambistas". E o jogo continua livre.

Relação com o Carnaval

A ligação do Jogo do bicho com o Carnaval começou por volta dos anos 30, através de Natal da Portela.

Natal desde cedo esteve envolvido no mundo do samba, já que no quintal de sua casa na esquina da Estrada do Portela, no subúrbio de Oswaldo Cruz, realizavam-se rodas de samba e onde foi fundado o bloco carnavalesco Vai Como Pode, que se transformaria na Escola de Samba Portela.

Após perder um braço decorrente de um acidente com trem, Natal perde o emprego e vai trabalhar como apontador de bicho na região de Turiaçu. Em pouco tempo, vira gerente de banca e depois consegue montar a sua própria, vindo a se tornar banqueiro de jogo do bicho, controlando toda a área de Madureira.

Com a morte de sue grande amigo Paulo da Portela, Natal, como forma de homenageá-lo, resolve investir dinheiro na Portela para que ela pudesse se transformar em uma grande Escola de Samba, criando aí a figura do bicheiro patrono.

Somado a suas práticas clientelistas com a população de Madureira, já que devido a sua infância pobre, Natal sempre procurava a ajudar aos pobres, através de doação à igreja, à instituições de caridade, pagamento de enterros e etc, sua ligação com o carnaval começou a adquirir cada vez mais prestígio além dos limites da contravenção, sendo até mesmo convidado pelo então Ministro Negrão de Lima a apresentar a Portela para a Duquesa de Kent no Palácio Itamaraty em 1959.

Como forma de se legitimar perante a sociedade, os demais banqueiros de jogo do bicho, seguem o exemplo de Natal, vinculando-se às Escolas de Samba de suas respectivas áreas de atuação, o que posteriormente também será usado, segundo alguns, como forma de lavagem de dinheiro da contravenção.

Referências

  1. "É bicho na cabeça" pelo historiador Antônio Paulo Benatte para a revista História Viva, nº 54, pg. 66-70. Editora Duetto. Abril de 2008.